segunda-feira, outubro 02, 2006

fiction

chove e eu me entedio. já gostei da chuva. já gostei do que a chuva trazia, por dentro e por fora. Agora a chuva é só uma desculpa pra não sair de casa procurando o que eu perdi. eu poderia usar as palavras perfeitas pra você voltar a acreditar na chuva também, mas você resolveu esquecer. Já escrevi palavras perfeitas pra você umas 100 vezes desde que terminou, mas eu sempre me distraio no caminho e acabo perdendo em algum bolso.

A verdade é que desde o dia que pouco a pouco a gente foi se afastando e as pontes foram caindo, eu me escondi na ficção. É verdade que não é culpa sua também, a gente vai criando laços que acabam prendendo a imaginação. "Eu não estou falando sobre mim, isso não é sobre você". Me escondi na ficção e em relacionamentos bestas com nomes e regras. Perdemos em poesia e verdade. Eu fingindo que a culpa é sua mais por poesia que verdade. E você fingindo que eu não existo mais por verdade que por poesia.

A culpa é minha. E foi minha desde o começo. Eu posso dizer que eu não poderia fazer nada, já que foi você que começou. E seria verdade também. E que quando você sumiu por motivos exteriores eu não pude fazer nada, você sumiu, você que encontrasse o caminho de volta. O engraçado é que se eu tivesse ao menos usado as palavras certas, ou qualquer palavra, ao invés de ficar calado olhando você ir embora com seu novo cabelo, você teria ficado. Não digo que daria tudo certo, porque eu sei que não daria. Mas pelo menos ainda existiria alguma coisa pra gente se segurar.

Além da chuva, tem esse monte de músicas que eu não posso mais ouvir. Tem as que me lembram de ti, e as que eu nunca ouvi antes e me lembram de ti e eu queria te mostrar. As músicas, os livros, os desenhos, os filmes que eu tenho que guardar na memória esperando um dia você voltar vão acabar fazendo minha cabeça explodir. Não tem mais espaço. Tem coisa acumulada em todos os cantos, desorganizada, amassada. E tem tudo que eu tenho que lembrar de ti ainda, simular suas respostas, pensar qual pontuação você usaria, em qual parte do filme você riria. E tem um monte de palavras proibidas agora também. Palavras que só você ia entender e eu prefiro não gastar com o contexto dos outros.

Várias coisas perderam o sentido. Tomar café não tem muito sentido mais. Não ter guarda-chuva agora parece uma idiotice, e não uma coisa engraçada. Gosto de inventar motivos pra você voltar também, ouvindo pavement, "and I¿m the only one who laughs at your jokes when they are so bad and your jokes are always bad", mas no fundo eu sei que você sempre terá um monte de gente aos seus pés, e eu sou o perdedor da história, não importa o meu sorriso, não importa o que você aprendeu comigo, o que eu aprendi com você.

E quero inventar que você que não tenta, porque você é má, você é fraca e você está assustada, mas esse sou eu. A maior obra de ficção que eu já escrevi é minha vida sem você. Me inventei sendo um papel que eu não me encaixo. Te inventei do jeito que eu quis, agora que você é só um fantasma. Invento e reinvento a história do jeito que cabe melhor minha dor da semana. Invento os dias que você vai voltar. Invento quando eu falo de felicidade e destruir essa melancólica e íntegra estrutura das coisas e remoldá-la mais de acordo com o desejo do coração. Invento o que é simples, porque eu poderia simplesmente dizer oi, em vez de olhar para os pés e dar um sorriso sem-graça.

2 comentários:

Anônimo disse...

vc é foda
vc sabe tudo
mas isso aí nem eu nem vc sentimos..
te amo pra sempre

Clara Averbuck disse...

gasp.