terça-feira, outubro 03, 2006

do you believe in rapture, babe?

se a proposta é escrever aqui diariamente e eu não quero falar da garota de camiseta amarela que eu vi no restaurante (já que a outra proposta por enquanto é ser um blog mono-obsessivo) eu devia falar dessa nova música do Sonic Youth que me pegou de surpresa. Eu estava decepcionado com o Sonic Youth, todo mundo estava depois daquele show merda. Tá certo que eu andei obsessivo pelos barulhinhos hipnóticos do Jim O'Rourke solo, mas o Jim O'Rourke é alguma coisa bem maior que o Sonic Youth. Sonic Youth é o casalzinho Moore.

A tal música é "do you believe in rapture", do último cd (rather ripped). Andava tão decepcionado com eles que nem animei de correr atrás. Por acaso, copiei do pen-drive de um amigo que estava aqui. 5 segundos depois de copiar, o pen-drive do garoto caiu no chão e virou uma lanterna super-cara cheia de músicas irrecuperáveis dentro. Isso fez com que eu resolvesse ouvir o cd com atenção, eu gosto dessas coincidências.

Mentira. Ouvi o cd 50 vezes no background, enquanto ouvia alguém discutir política (discutir política comigo é monologar sobre política enquanto eu sorrio e penso se eu sou Linus Van Pelt, Charlie Brown ou Schroeder - lógico que eu sou um pouco de cada, mas é divertido). Aí hoje, depois de ter reinventado esse blog-redenção - logo eu, que não acredito muito em redenção - suspendo meu defícit de atenção por alguns segundos e ouço o thurston moore sussurando:

Do you believe in his sweet sensation
Do you believe in second chance
Do you believe in rapture babe


E percebi que aquela música poderia ter salvo a minha vida, se eu estivesse na beira de um prédio esperando pra pular. Eu sempre acreditei em segundas chances. Aliás, eu nunca acreditei em porra nenhuma, quando eu estava com vontade de deixar alguém voltar eu acreditava em todas as chances possíveis, quando eu queria mandar embora acreditava que uma vez quebrado é melhor jogar fora.

O que nos leva a questão da minha falta de príncipios e vontade de sempre inverter o jogo. Não importa nem um pouco o que eu penso sobre segundas chances, importa o que todas as garotas que já me deixaram pensam. E eu nunca descobri, nem nunca vou porque eu não sou Bruce Springsteen (todo mundo é um pouco Bruce Springsteen, mas não vem ao caso) de voltar com aquele papo de "vamos tomar um café e discutir o que deu errado, baby". Isso pra mim sempre pareceu aqueles questionários de satisfação que os vendedores de carro mandam pros clientes no final do ano.

E eu percebo agora que anda impossível concluir qualquer coisa que eu tente escrever, simplesmente porque eu não sei mais respostas pra nada. Só sou um sujeito obsessivo por casos sem redenção. Te procuro nas ruas por puro parsifalismo, não sou mais herói de ninguém nem responsável por sorriso de ninguém. Meu cabelo está caindo, meus óculos são outros e eu engordei. Um dia desses você não me reconhece no meio da multidão, é tarde demais. Eu devia dormir. Eu devia terminar de assistir "A Noite Americana" lá na sala. Eu devia procurar os últimos cigarros que alguém esqueceu aqui. Eu devia ter comprado uma garrafa de gim no mercado. Eu devia continuar bêbado o suficiente pra achar "drunken mercy" as palavras mais lindas que eu já vi na vida. Vocês deviam procurar essa música, pelo bem de vocês. É o mais interessante que eu posso mostrar hoje.

Um comentário:

Anônimo disse...

Matheus, vai caçar um tanque de roupa pra lavar!