quarta-feira, dezembro 12, 2007

You Don't Know What Love Is (You Just Do What You're Told)

There's bourbon on the breath
Of the singer you love so much
He takes all his words from the books
That you don't read anyway

Com o tempo você aprende que quando começa a escrever sobre amor é que ele já morreu faz tempo. Tudo que já foi escrito sobre amor é carta de despedida, epitáfio, recitação pra invocar zumbis, últimos pedidos, conversa sem-sentido pra esperar a saideira. É tudo sobre quem deixa quem e na primeira frase sempre está o final, como numa imagem de mandelbrot que com qualquer pedaço você cria a imagem inteira. Como você é burra e não sabe quem foi mandelbrot, te digo que é igual filme ruim feito pra tv que a gente já sabe o final antes de começar. Se você realmente acreditasse, estaria quieta e não esperando o mundo confirmar e reconfirmar o quanto o amor de vocês é bonito e como eles deviam fazer filmes, cantar músicas sobre isso and all that jazz. Acontece que no momento que se escreve sobre, você dá instrumentos pro outro lado medir o tamanho do amor que sente (mal-entendido ou não) e aí começa o verdadeiro inferno, que se a balança pesa mais pra um lado, acabou. Quando amor é só mercadoria, acaba nisso, regras simples de oferta e procura. that's what the blues is all about.

Obviamente eu estou mentindo. É possível se escrever sobre o amor também antes do primeiro beijo, quando as coisas ainda podem ser imaginadas e quando você ainda quer realmente acreditar que ela viu todos esses filmes, leu todos esses livros e tem tantas sacadas espertas originais, você até empresta uns livros achando que alguém te entende. Mas no fundo é sempre a mesma eterna negociação de interesses e "então vocês chamam azul de vermelho por aqui, então podemos entender por metáfora/associação". Eu não quero ser entendido por metáfora nem merda nenhuma, eu quero ser entendido pelo formato das minhas sobrancelhas ou pelo barulho da minha respiração. Eu só vou acreditar num amor que possa durar quando eu começar a fazer arquitetura, desenho, filmes mudos ou fotografia. Qualquer pessoa que pretende colocar o que sente no papel só quer tentar transformar algo feio e egoísta em mercadoria e é tão mentiroso quanto remédios com sabor de bala que na hora que encostam na garganta mostram o verdadeiro sabor. Escritores são mentirosos, todos. Não existe algo como cantar sobre amor em paz e ser sincero. Os caras da bossa nova só queriam comer alguém. E você não sabe o que é amor, você sabe o que é conveniente pra você e que palavras todo mundo diz desde que os trovadores queriam alguém que não deviam querer e resolveram inventar isso de colocar uma mulher acima de deus/estado/laços fraternos. Eu não quero esse tipo de amor. Eu quero garotas que não quebrem tão fácil. Eu quero morrer no final do filme enquanto ainda dá pra ser herói, porque depois do final feliz só resta pular a cerca e procurar a princesa encantada do reino vizinho, jovem parsifal. Eu só gosto das histórias porque elas são bonitas e eu ainda não sou feliz, e as suas histórias são chatas e nem tem nada pra roubar. You bore me to death.