domingo, dezembro 07, 2008

...and just a little bit of rain

eu venho pensando que existem esses pequenos deuses que impedem que eu vire a página ou continue assistindo o filme quando as coisas começam a desabar. Primeiro foi la dolce vita que o telefone tocou e eu dei stop no momento exato em que as coisas começariam a ficar amargas. Depois foram Os Jardins de Kensington que no momento que as grandes revelações cruéis e tristes seriam feitas que eu fui acertado por uma carga absurda de trabalho e fiquei dias sem voltar ao livro. Existiriam pequenos deuses, como os pequenos demônios que atrasam os relógios ou somem com as canetas bics? Será um pequeno deus que segura meus dedos antes de dizer certas coisas, virar certas páginas ou fazer certas caretas? Será o mesmo deus que nos impede de passar da sala pro quarto, dizer as verdades tão doces que trariam tantos problemas que parecem tão impossíveis de ter uma resolução que não seja o exílio ou o suícidio? Será isso que gera essa multidão de desculpas e escolhas e opções que não levam a lugar nenhum? Que transformaram esse cliffhanger em tantas sidequests com prêmios imbecis que eu não quero nem preciso?

Alguém sopra no meu ombro que esses são os caminhos do diabo(the devil's ways, sinto o hálito morno do mississipi blues), que te tenta com pequenas recompensas e te afasta dos verdadeiros bons finais sem i woke up this morning e i never get out of these blues alive. É o demônio cartesiano clássico que te convence primeiramente que dois mais dois igual a cinco até você descobrir que não é bem assim e derrubar a primeira carta do seu castelo de certezas e vamos começar tudo de novo. É complicado pensar em real e imaginário quando todos os mortos que a gente ama jogaram essa certeza fora e nós crescemos apegados às não-certezas. Então como decidir o que é bom ou ruim pra mim, pra nós, pra história, pro cenário? Eu me lembro de que a única cidade que eu gostava e achava viva antes de te conhecer era Gotham City, agora todo canto que eu olho eu vejo personalidade e estilos e atitudes e atitudes demasiado humanas nos prédios, ruas e esquinas. Penso se você também aprendeu alguma coisa comigo, como quando eu troco a música e troco de cidade e humor junto. Agora eu ando ouvindo todss essss canções agridoces do bob dylan e do fred neil (eu sei que nem combinam) e penso se junto com meu humor e a cidade também não estou mudando a história, se eu não devia estar ouvindo bossa nova que é só saudade demais e finais felizes ou docemente tristes com chandon e outros caminhos. Mas nosso caminho parece ser sempre esse começo sem fim ou esse fim sem começo. Eu sei é que no fundo eu não me importo, fecho os olhos e agradeço seja lá quem te colocou no meu caminho (e acho que era inevitável a gente acabar se encontrando, ainda bem que nos conhecemos numa época que eu ainda podia te reconhecer quando você me emprestou aquela caneta e meu coração ficou cheio pra sempre de tinta e agora como um polvo eu jogo ela fora no papel nessas letras sem métrica e sem rima e sem vírgula pra ler sem respirar até perder o fôlego e pensar em alguma salvação que talvez nem nos interesse tanto e talvez a gente prefira viver pra sempre nesse doce inferno ou nesse céu amargo mas que tem as cores bonitas do magritte que não é o mais esperto ou talentoso, mas vai ser pra sempre o meu preferido. And i got to admit it´s gettin' better a little better all the time, desde que a gente descobriu que não precisa ser triste e pesado e tudo voltou a ser leve.

quarta-feira, setembro 10, 2008

em antecipação ao braço quebrado

I wanna make you cry
And sweep you off your feet.
I wanna hurt your pride
I wanna slap your face
I wanna paint your nails
I wanna make you scream
I wanna braid your hair
I wanna kiss your friends
I wanna make you laugh
I wanna dress the same
I wanna defend you
I wanna squeeze your thighs
I waana kiss your eyelids
And corrupt your dreams.
I wanna crash your car
I wanna scratch your cheeks
I wanna make you sick
I wanna sell you out
Want to expose your flaws
I wanna steal your things
I wanna show you off
I wanna tell you lies
I wanna write you books
I wanna turn you on
I wanna make you come
200 times a day
I wanna dry your tears
Every time you're sad
I wanna be what's happening
I wanna be your only friend
i wanna be your beast
i wanna make you proud
and play with your head
i wanna take you out
make you feel adored
and buy you everything
i wanna hurt you bad
make you paranoid
and say the sweetest things
i wanna help you grow
and for eternity
i wanna be you what's happening

sentado no bar ouvindo a garota dizer as palavras que já entende em português, olho você e penso o que seria se a gente já tivesse se falado todos aqueles anos que preferimos os ois lacônicos de corredor e depois vieram as outras pessoas e a geopolítica de playground e os ódios adquiridos por osmose que nunca convenceram muito mas tiveram um papel engraçado. seria eu o destinatário das suas mentiras? será que eu ia receber seus alíbis com um sorriso no rosto como ele? será que teria durado mais que uma semana e algumas mentiras? eu acho que não teria muita paciência com você não, não sem o afrodisíaco que é a culpa e a sensação de canalhice envolvida. Mesmo que a gente não faça nada, o primeiro movimento e a gente já sabe os reis que vão cair, as casas que vão ficar ocupadas e quem vai chorar no final (e que não vai ser nenhum de nós dois, afinal canalhas se entendem, não é?). "E pára de concordar comigo que eu não quero gostar de você..." E é uma liberdade danada eu não esperar de você mais doçura que me pagar uma cerveja ou rir da minha cara de incomodado e desviar a fumaça do cigarro pra outro lado. Aliás, nem isso eu esperava de você, o que já é uma ponta de decepção ver que você amoleceu. E é liberdade saber que eu nunca vou partir o coração que você não tem. Sua liberdade me faz querer estar por perto, estar com você é como estar sozinho, posso fazer o que quiser e pensar alto sem machucar ninguém. E logo você está de volta contando bobagens sobre quem já esteve por lá antes, medidas e qualidades e eu quase me sinto bem por não estar na lista, mas uns cinco minutos depois eu já iria me arrepender de ter dito isso e - falso raccord patrocinado por jack daniels e red bull - vemos ela dizer que eu posso até duvidar, mas ela vai morder, não vai deixar marca mas eu vou lembrar um bom tempo e conferindo no day after não tinha marca nenhuma mas parecia que algum músculo tinha sido tirado do lugar. então nós somos os últimos a deixar o lugar e por um momento o sol absurdamente claro parece um pouco inacreditável, eu por uns momentos achei que não seria correto te ver na luz do dia, você podia desmanchar no vento quando o primeiro raio batesse e eu pela primeira vez tive medo daquela mordida, mas em vez de comentar preferi te chamar pra tomar mais uma cerveja e alguém disse que havia um apartamento e que com certeza estariam acordado e que é sempre melhor tomar uma cerveja num horário desses num lugar mais tranquilo então bebemos mais quantas cabiam entre algumas idas ao banheiro e alguns arrependimentos e aquela sensação de. then we started to talk in a language the cab driver couldn't understand. dirty talk. e em outra língua você parece uns anos mais nova e quase ingênua. penso que talvez eu nunca te toque pra você continuar pra sempre assim, you play the bride being stripped bare, eu celibatário. você diz que nós nunca vamos tocar, eu digo que uma regra tão clara seria bem-vinda na confusão que é minha vida. breaking glass. o taxista dá voltas e voltas sem achar um caminho em que o exército não esteja bloqueando a passagem, e que acha quase romântico esse efeito encenado e essa sensação de blouson noir contra a ditadura, afinal alguma coisa tem que ser romântica, e que eu perdi a oportunidade de te comer naquele sonho estranho e você começa a falar em alemão, eu sorrio como se entendesse, sei que foi algo sujo, nem ligo, já estou pensando na outra garota que eu deixei ao ceder ao seu sorriso por ser mais fácil ou nos livros da estante e pensando se foi o certo até você dizer que não importa a história contada, ele vai acreditar na pior hipótese, eu sorrio, você vai embora sem olhar pra trás e eu sei que nunca mais vou te ver se eu passar a me importar com isso, mas como nenhum de nós dois se importa eu sei que os gênios trágicos e ruins vão acabar te arrastando pra mesma ponta do balcão e eu vou sorrir e te oferecer uma cerveja, em vez de ficar aqui imaginando por que ruas você anda e em que cinemas me esquece, que você deve é estar vendo tela quente e imaginando em que ruas eu ando e...

terça-feira, agosto 26, 2008

I've been donating
Time to review
All the misinterpretations
That define me and you




Eu prometi que nunca mais ia escrever aqui quando você foi embora deixando aquilo no meu colo como se fosse um animalzinho morto e sem dar nenhuma explicação. Quis ficar burro, começar a fumar, ter daquelas garrafas de alumínio com uísque pra sempre que a realidade ficasse pesada. Sonhei que ia me matar e a corda arrependeu e eu fiquei me achando meio ridículo. Andei um milhão de passos embaixo do sol com um sorvete que não descia escorrendo entre os dedos. Quis viver na época que ainda era possível roubar o louvre sem se preocupar com um milhão de raios laser. Quis ser feliz pra provar que você estava certa, quis ser triste pra provar que você estava errada. Quis sumir pra você nunca saber, o que é sempre pior, pelo menos eu acho. Me vi velho, me vi morrendo, me vi astronauta, me vi desejando que a bomba atômica varresse essa cidade e só deixasse nossas sombras alongadas como um último abraço embaixo do poste de luz sepia da sua casa que só existe na minha memória. Vi o fogo e quis que todas as metáforas morressem. Senti o fogo do meu estômago até a garganta e a cabeça pesada. Quis te contar da pintura do matisse que ficou dias e dias exposta ao contrário no museu e ninguém percebeu. Quis te mostrar uma frase bonita do Cocteau e descobrir se eu tinha entendido Le verbe aimer est un des plus difficile à conjuguer: son passé n’est pas simple, son présent n’est qu’indicatif et son futur est toujours conditionnel... quis te fotografar com o sol caindo, quis te fotografar em cima da grama verde com neblina em volta e uma lanterna náutica. Queimei livros, destruí memórias, revi filmes torcendo pro outro lado, decidi as músicas que eram suas e eu nunca ia poder ouvir de novo. Lembrei de alguém que me disse que todas as histórias, filmes, livros do mundo são sobre voltar pra casa. Lembrei que achei isso idiota até que sem você eu percebi o que era o exílio. Vivi um milhão de anos em um dia e o vazio crescendo. Quis saber quanto tempo tinha passado pra você. Quis saber o que você sentia. Quis te dizer que eu entendo, sorrir e ficar. Um milhão de anos depois você voltou com um sorriso me perguntando alguma coisa que eu nem lembro. A única coisa que nunca mudou foi a valsa. Quis ter dito a tempo que era pra você. Quis saber porque sempre parece cedo ou tarde demais pra qualquer começo feliz.

Acho que eu vou gostar de escrever pra sempre, mesmo que o jeito que você lê nem sempre seja o que eu quero e mesmo que amanhã tudo mude, desde que você esteja aqui.

sábado, maio 24, 2008

Enthusiasm For Life Defeats Existential Fear

(só pra tirar a tristeza do topo)

Last night I had a horrible dream
But the sunrise in the morning
Came and burned it all away

Last night I had a horrible dream
But your smile in the morning
Came and took it all away.


eu fico aqui tentando ficar triste pra ver se o tempo passa mais rápido. Que ficar triste é coisa que eu costumava fazer bem antigamente então a gente acaba sempre voltando pros territórios seguros e zonas de conforto. Mas aí eu deito no sofá com um livro no colo, aquelas músicas no fone e lembro de quando você abaixa a cabeça no meu ombro depois que cansa de gargalhar ou então de todo o tempo que a gente passa falando sobre nada ou até das suas bolinhas de stress e ansiedade e de repente tô feliz e com aquela sensação de que as coisas vão durar e que não importa se eu te vejo tão pouco já que vão ser milhares de semanas e na soma final vai dar alguns milhões de horas (o suficiente pra tirar um brevê, ou até pra ser piloto da nasa, assim) and what would we'd be without wishful thinking. Então volto pras questões do dia do tipo que horas vou dar uma volta sem rumo pela cidade ou que horas vou deixar a preguiça de lado e usar o papel que comprei pra colar stickers pela cidade e você vai rir quando ler isso mas é verdade, depois te mostro as fotos.

sábado, maio 17, 2008

linhas bobas

Yeah, I was a postcard, I was a record
I was a camera until I went blind
And now I am riding all over this island
Looking for something to open my eyes
But I still sing glory from a high rise
And I will say thanks if you’re pouring my drinks
While the world waits for an explosion
That moment in time when we'll be set free

So don’t stay mad, just let some time pass
And in the morning you’ll wake feeling new
And if I don’t come back
I mean, if I get sidetracked
It’s only cause I wanted to
I'm keeping up with the moon on an all night avenue



Sentado sozinho na frente da tela em branco, penso o que essa gripe está tentando me ensinar e o que o meu corpo está querendo dizer com isso. Eu odeio a sensação de imobilidade e de não poder estar por perto e não poder fazer diferença nenhuma em nada. Queria te apertar e te abraçar e dizer coisas bobas bem perto do seu rosto sem ter que me preocupar com suas amigdalas e se você também se resfria fácil. A verdade é que mesmo sem gripe eu não posso estar por perto o quanto quero. Eu queria entender o que leva a gente a estar tão perto e ao mesmo tempo tão inconstante. Eu queria achar os intervalos bonitos igual acho bonitos os silêncios no chet baker ou os planos gigantes e lentíssimos naqueles filmes que eu fico um tempão perdido no seu rosto e quando volto pra tela ainda não aconteceu muita coisa. Mas com você eu tenho medo dos contrastes e das ausências. Era tão fácil aceitar a mudança em tudo quando todo mundo era igualmente sem-graça, é só você chegar e qualquer rudimento de desapego zen desaparece. Eu perco minha frieza e despreocupação, como as crianças que quando se esconde o rosto acham que você sumiu/nunca existiu/foi embora. Eu preciso ver sua risada, preciso ouvir seu rosto e preciso sentir sua voz. Eu tenho medo de que você enjoe, que você vá embora, que você se chateie e vá procurar um lugar melhor e outras criatividades. As linhas dos livros se embaralham e eu deixo a comida esfriar enquanto espero você voltar. Eu acendo as luzes, lavo os copos, ligo a tv, abro as persianas, jogo tetris, leio revistas velhas, clico em mil lugares e nada. Queria não ter que te ver em horários definidos. Preciso de você umas vintecinco vezes por dia, e isso dura mais ou menos uma hora. Na realidade queria que fosse só abrir o olho ou virar o pescoço uns quarenta e cinco graus e já ter você na visão periférica. Preciso de você aqui pro mundo ser suportável e eu ter vontade de escrever, dançar, cozinhar, ler, cantar sem que essas coisas sejam só o estofamento que separa os encontros e despedidas. Queria saber lidar com as fases e ciclos, respirar fundo, construir máquinas enquanto espero um dia em que tudo vai ser melhor e eu não vou ter que preencher esses cheques em branco da ausência com o nome de todos livros e músicas e filmes do mundo e ainda sobrar tanto vazio.Mas é tudo tão impossível de entender. Nada é simples quando eu estou com o nariz entupido. Já que a lógica não funciona mesmo, agora eu vou abrir o sorvete de limão, tocar a música que me fez lembrar de você ontem e fazer acordos pra que os dias passem rápido se for pra você entrar pela porta e que não passem nunca se for pra você ir embora no final. E repetir mil vezes que você volta, mesmo não sabendo se é verdade e sem argumentos lógicos pra convencer a mim mesmo, e olha que eu estou louco pra acreditar.

sábado, abril 19, 2008

arrastando os móveis e tirando a poeira

"A tua presença entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença
Paralisa meu momento em que tudo começa
A tua presença
Desintegra e atualiza a minha presença
A tua presença
Envolve o meu tronco, meus braços e minhas pernas
A tua presença
É branca, verde, vermelha, azul e amarela
A tua presença
Transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença
Silencia os automóveis e as motocicletas
A tua presença
Se espalha no campo derrubando as cercas"


estamos em 2008 ainda? Tem hora que parece que a gente tomou um desvio e foi parar em algum outro lugar e espaço. Tem dia que é a vida de repente dá lugar a um sonho de buñuel, ou de padaria, que é bom também. De repente tudo é símbolo e totem e segurar sua mão entre as mesas é tão importante quanto a rotação da terra e memorizar as marquinhas do seu rosto é um passo essencial para garantir que a lua não vá se desprender da terra e sumir daqui. A vida tem se dividido em semanas, com dias de você e o espaço em volta (pense em um átomo de hidrogênio, com toda aquela solidão imensa entre o núcleo e o elétron, que esse é o tamanho do...) Aqui não vamos falar de translação que tem essa hipótese do tempo circular, os dias tem ganhado consistência e cheiro de casaco guardado no armário pro primeiro dia de inverno (falar de estações não faz sentido também, mas licença poética já que o inverno é tão...) que a manhã vai lavar tudo e então tudo é permitido e nada tem o gosto duro de tinta marcada e sequência cronológica que os autores ruins se obrigam, que os melhores livros não tem isso de contar do jeito que aconteceu e muito menos na ordem. Mas será que escrever pode balançar essa ordem? Eu devia manter o trato de não quebrar o silêncio enquanto ele fosse gostoso? Será que a caneta é a maçã que vai tirar a gente desse edén do tempo circular? Será que é alguma outra coisa? Será que isso é bom? Viver os mesmos dias em seu preço, claro. Nós nunca vamos envelhecer, mas vamos esperar pra sempre o filme novo com a kirsten ou os discos que iam sair semana que vem. Fica o trato que vale a pena e vamos só deixar o inverno chegar praquele casaco não ter sido à toa e que sempre vai ter sorrisos matinais e alguma conversa sem sentido no ouvido só pra tocar sua maçã (agora a do rosto) enquanto o sono não vem ou eu não admito que ele já veio faz tempo, só quero ficar mais um pouco e voltar pra casa ouvindo as músicas que você escolhe e ainda não sabe. Cuida pra que tudo continue leve e bonito assim, que sua presença já preencheu demais até a minha sala e eu não quero que só brilhe pela ausência.

p.s.: quando vamos sair pra dançar?