terça-feira, agosto 26, 2008

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All the misinterpretations
That define me and you




Eu prometi que nunca mais ia escrever aqui quando você foi embora deixando aquilo no meu colo como se fosse um animalzinho morto e sem dar nenhuma explicação. Quis ficar burro, começar a fumar, ter daquelas garrafas de alumínio com uísque pra sempre que a realidade ficasse pesada. Sonhei que ia me matar e a corda arrependeu e eu fiquei me achando meio ridículo. Andei um milhão de passos embaixo do sol com um sorvete que não descia escorrendo entre os dedos. Quis viver na época que ainda era possível roubar o louvre sem se preocupar com um milhão de raios laser. Quis ser feliz pra provar que você estava certa, quis ser triste pra provar que você estava errada. Quis sumir pra você nunca saber, o que é sempre pior, pelo menos eu acho. Me vi velho, me vi morrendo, me vi astronauta, me vi desejando que a bomba atômica varresse essa cidade e só deixasse nossas sombras alongadas como um último abraço embaixo do poste de luz sepia da sua casa que só existe na minha memória. Vi o fogo e quis que todas as metáforas morressem. Senti o fogo do meu estômago até a garganta e a cabeça pesada. Quis te contar da pintura do matisse que ficou dias e dias exposta ao contrário no museu e ninguém percebeu. Quis te mostrar uma frase bonita do Cocteau e descobrir se eu tinha entendido Le verbe aimer est un des plus difficile à conjuguer: son passé n’est pas simple, son présent n’est qu’indicatif et son futur est toujours conditionnel... quis te fotografar com o sol caindo, quis te fotografar em cima da grama verde com neblina em volta e uma lanterna náutica. Queimei livros, destruí memórias, revi filmes torcendo pro outro lado, decidi as músicas que eram suas e eu nunca ia poder ouvir de novo. Lembrei de alguém que me disse que todas as histórias, filmes, livros do mundo são sobre voltar pra casa. Lembrei que achei isso idiota até que sem você eu percebi o que era o exílio. Vivi um milhão de anos em um dia e o vazio crescendo. Quis saber quanto tempo tinha passado pra você. Quis saber o que você sentia. Quis te dizer que eu entendo, sorrir e ficar. Um milhão de anos depois você voltou com um sorriso me perguntando alguma coisa que eu nem lembro. A única coisa que nunca mudou foi a valsa. Quis ter dito a tempo que era pra você. Quis saber porque sempre parece cedo ou tarde demais pra qualquer começo feliz.

Acho que eu vou gostar de escrever pra sempre, mesmo que o jeito que você lê nem sempre seja o que eu quero e mesmo que amanhã tudo mude, desde que você esteja aqui.

Um comentário:

Unknown disse...

o verbo amar* é um dos mais dificeis de conjugar: seu passado não é simples, seu presente não é nada mais que indicativo e seu futuro é sempre condicional..

*só lembrar que o verbo aimer no francês tem um peso inferior a um "je t'adore".

se houvesse um jeito de transformar essa forma de escrever cartas doces em algo pra mais alguém, acho que eu voltaria a escrever.