eu venho pensando que existem esses pequenos deuses que impedem que eu vire a página ou continue assistindo o filme quando as coisas começam a desabar. Primeiro foi la dolce vita que o telefone tocou e eu dei stop no momento exato em que as coisas começariam a ficar amargas. Depois foram Os Jardins de Kensington que no momento que as grandes revelações cruéis e tristes seriam feitas que eu fui acertado por uma carga absurda de trabalho e fiquei dias sem voltar ao livro. Existiriam pequenos deuses, como os pequenos demônios que atrasam os relógios ou somem com as canetas bics? Será um pequeno deus que segura meus dedos antes de dizer certas coisas, virar certas páginas ou fazer certas caretas? Será o mesmo deus que nos impede de passar da sala pro quarto, dizer as verdades tão doces que trariam tantos problemas que parecem tão impossíveis de ter uma resolução que não seja o exílio ou o suícidio? Será isso que gera essa multidão de desculpas e escolhas e opções que não levam a lugar nenhum? Que transformaram esse cliffhanger em tantas sidequests com prêmios imbecis que eu não quero nem preciso?
Alguém sopra no meu ombro que esses são os caminhos do diabo(the devil's ways, sinto o hálito morno do mississipi blues), que te tenta com pequenas recompensas e te afasta dos verdadeiros bons finais sem i woke up this morning e i never get out of these blues alive. É o demônio cartesiano clássico que te convence primeiramente que dois mais dois igual a cinco até você descobrir que não é bem assim e derrubar a primeira carta do seu castelo de certezas e vamos começar tudo de novo. É complicado pensar em real e imaginário quando todos os mortos que a gente ama jogaram essa certeza fora e nós crescemos apegados às não-certezas. Então como decidir o que é bom ou ruim pra mim, pra nós, pra história, pro cenário? Eu me lembro de que a única cidade que eu gostava e achava viva antes de te conhecer era Gotham City, agora todo canto que eu olho eu vejo personalidade e estilos e atitudes e atitudes demasiado humanas nos prédios, ruas e esquinas. Penso se você também aprendeu alguma coisa comigo, como quando eu troco a música e troco de cidade e humor junto. Agora eu ando ouvindo todss essss canções agridoces do bob dylan e do fred neil (eu sei que nem combinam) e penso se junto com meu humor e a cidade também não estou mudando a história, se eu não devia estar ouvindo bossa nova que é só saudade demais e finais felizes ou docemente tristes com chandon e outros caminhos. Mas nosso caminho parece ser sempre esse começo sem fim ou esse fim sem começo. Eu sei é que no fundo eu não me importo, fecho os olhos e agradeço seja lá quem te colocou no meu caminho (e acho que era inevitável a gente acabar se encontrando, ainda bem que nos conhecemos numa época que eu ainda podia te reconhecer quando você me emprestou aquela caneta e meu coração ficou cheio pra sempre de tinta e agora como um polvo eu jogo ela fora no papel nessas letras sem métrica e sem rima e sem vírgula pra ler sem respirar até perder o fôlego e pensar em alguma salvação que talvez nem nos interesse tanto e talvez a gente prefira viver pra sempre nesse doce inferno ou nesse céu amargo mas que tem as cores bonitas do magritte que não é o mais esperto ou talentoso, mas vai ser pra sempre o meu preferido. And i got to admit it´s gettin' better a little better all the time, desde que a gente descobriu que não precisa ser triste e pesado e tudo voltou a ser leve.
Um comentário:
teus textos mudam muito rápido, mas de uma forma muito real. acho que agridoce e bob dylan conbinam perfeitamente com teu estilo.
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