Olha, você é o tipo de garota que eventualmente vai embora e a gente escreve um blood on the tracks pra exorcizar. Mas eu nunca faço nada e do mesmo jeito que não te levo pra tomar um café eu não ia escrever nem uma linha, só ficar mais amargo e te arquivar naquela imensa lista de frustrações enquanto eu penso em voltar a fumar cigarros e secretamente te culpar pelos anos a menos. E é melhor escrever que falar que eu não quero que você desmonte minhas profecias autorrealizáveis com um sorriso ou qualquer outro desconcerto doce. Vai ver eu não quero ser feliz. Felicidade implica fazer coisas e aceitar uma certa quantidade de caos na vida. É mais confortável não ser feliz. Até porque não dura. E depois eu não vou saber o que contar pra todo mundo de onde foram todos os planos e como que eu, tão inteligente, não tinha previsto um final tão óbvio. Talvez se a bebida destruísse mais meu cérebro e menos meu fígado tudo estaria melhor. Ser mais burro é ter mais certeza de tudo. Hoje de manhã eu vi um casal burro e feliz. Parecia fácil e parecia justo. E no final os dois morrem igual a todo mundo, então pra que ficar acumulando tanta coisa na cabeça que numa esquina pode virar só matéria orgânica em decomposição? Vai ver eu devia escolher uma religião. Vai ver eu devia ir embora. Vai ver eu devia cozinhar mais que um prato. Vai ver eu devia dançar mais músicas que eu odeio. Vai ver você é uma das minhas e eu não preciso ficar explicando nada que você já sabia desde que me disse oi. Eu queria terminar dizendo que nunca fui feliz nessa cidade, mas é mentira. Já fui e uma hora ou outra provavelmente vou ser de novo. O problema no fundo é sempre esse. Não sou feliz mas não sou triste o suficiente pra mudar. Preciso usar menos fones pra solidão ser um pouco menos suportável, errar mais e errar melhor. Aprender uns três acordes e fazer uma canção de amor.
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