quarta-feira, outubro 06, 2010

Up like a rocket, down like a stick.

Eu estou pensando o tempo todo em explodir. Em como é inevitável uma coisa que a gente não entende o funcionamento acabar em merda. Como evitar as variáveis de uma equação secreta? Combustão espontânea é uma coisa tão real quanto qualquer gripe e ainda não entendemos nada, nem desconfiamos os motivos, agravantes ou atenuantes. Só sabemos que de repente alguém transforma uma pilha de ossos e sangue em energia e vira um monte de cinzas.
Provavelmente esse caminho que eu escolhi de internalizar tudo nos últimos anos é um bom meio. Quanto tempo eu não explodo? Essas pequenas mortes e explosões que ajudam a manter o resto inteiro? Esses pequeno ex-votos deixados em uma fogueira qualquer? Qual o motivo que tem me segurado de ser cruel quando preciso? Talvez represar a crueldade esteja represando meu lado bom no processo. If I exorcise my devils, well my angels may leave too e etc. Penso em quanto ódio reprimido existe em tudo que a gente ama. Sonho bem mais em esmagar a cabeça num carro a duzentos quilômetros de quem amo, né? Talvez meu destino seja esse: destruir tudo que eu amo por não querer que mude ou por não mudar o suficiente. É por isso que eu escolho amar impossibilidades? Tudo que está fadado à destruição, diálogos ruins e frases imprecisas às quatro da manhã?
Eu lembro que quando te escolhi eu estava ansioso de café e cigarros. O quanto de nós dois é química? O quanto de você é só uma manifestação externa e subjetiva, uma metáfora, de uma causa interna e talvez puramente fisiológica? Um gene teimoso ou os vegetais verde-escuros que não como. Tenho medo de apostar minha felicidade e energia em um mero sintoma. O engraçado é você também ser/estar tão ciente da fragilidade dessas construções também. Do quanto o que sentimos é wishful thinking. Do tamanho do milagre que é nós dois termos a mesma ideia brilhante ao mesmo tempo, no mesmo lugar. E se a gente resolve partir pra superstição o quanto isso é bom ou mau sinal, a prova de um deus ou diabo puxando as cordas.
O curioso é que ao mesmo tempo só sobrou você. Todo o resto em volta são mentirosos, ladrões e vampiros. Eu não posso confiar em mais ninguém, então conto as histórias pela metade, troco os personagens, as horas, os cenários. Só confio em quem está longe e obviamente não tem nada a ganhar com a divisão do que sobrar da minha alma e das minhas idéias. Talvez seja por isso que eu me importo cada vez menos, bebo toda noite à minha indiferença e falta de propósitos nobres. Adoto essa política de terra arrasada pra não sobrar nada que ninguém precise roubar pra tentar ser eu (mal sabem o buraco que estão se metendo). Cada vez escondo melhor o que tenho de brilhante e valioso.
Eu nem senti pena quando me disseram que ela parecia tão triste, perdida e solitária numa fila de supermercado. Acho que até sorri... O que me assusta é pensar em quando você, que agora está tão perto e parece tão definitiva e sólida, deixar de ser pra quem eu escrevo, quem eu sei que vai entender, e virar apenas outra "ela" entre tantas. Eu sei que nada na vida devia ser grande ou importante demais para falhar, mas juro que não sei se vai sobrar algum caminho que valha a pena ser percorrido nesse dia. No caso de a gente não passar de outro desastre qualquer.

3 comentários:

dansesurlamerde disse...

Tava lendo Julio Ramón Ribeyro, e essa frase lembrou esse teu texto, ou foi o contrário? "A gente é como a figueira-brava, essa planta selvagem que brota e se multiplica nos lugares mais amargos e escarpados".

Só não sei bem porque a gente é assim.

Beijo.

mariana disse...

não sei por que, mas algumas partes me lembraram o "abandoning the ruins" de famine affair :*

marianabarcelos disse...

é que o mar nem sempre é calmaria, e a graça é essa. ele só engana as pessoas. palavra de uma pessoa muuuuuuito calma e tranquilia, já que vc deu a entender que é tbm. ressaca às vezes cai bem. aí a gente toma uma vitamica c e finge que passa.

;**