"it's a lie, it's a cop-out and I know you know I know why
you won't try, cause you're scared and you're weak
and you don't give a fuck about me
and I do believe that you hate yourself
and I knew you'd never stay forever
holding it together, making songs for me
and all right, forevers on your side
oh it's only time
it's longer than you think."
Você continua tentando interpretar as coisas com as migalhas parciais que você tem e toma isso como verdade absoluta. Quando eu te deixei com todo estardalhaço possível era pra que você não quisesse voltar, já que eu nunca consegui ficar a uma distância segura sozinho. Você era a parte forte, você dava as cartas, você fez suas escolhas que eu não podia viver junto, você devia ter queimado as pontes e construído as paredes. Agora me explica como você continua voltando aqui depois de tanta cicatriz e promessas desfeitas?
Eu estou cansado de seu nome adjetivo que é impossível esquecer e do campo minado emocional que é essa cidade, meus discos, meus livros e filmes, as frases que roubei de alguém e você roubou de mim. Já imaginei mil maneiras de alguma harmonia possível, mas todas elas se despedaçam quando eu lembro das suas melancolias repentinas de gato que se arrepia e persegue objetos imaginários pela casa e da sua vontade de afundar sem ser ajudada. Quando eu fui embora eu quis ter certeza que era pra sempre, e eu fiz questão de esquecer suas últimas palavras (que no fundo foram sobre você mesma). Talvez no fundo seja isso, nós somos idiotas demais pra conseguir ser felizes juntos e teimosos demais pra ser felizes longe.
Mesmo com todos os indícios contrários, talvez a gente não tenha nada de especial um pro outro, se você realmente acha que me entende pra dizer sobre minha adequação ou não à ordem das coisas provavelmente você nunca entendeu nada. Eu queria conseguir manter as (muitas?) coisas boas que a gente teve numa gaveta e jogar o resto fora, mas não dá pra rasgar as partes ruins porque no verso delas sempre está alguma das partes inevitáveis. Eu nunca entendi o seu amor pela catástrofe e porque um café nunca era um café, era sempre um jogo delicado em que tudo podia acabar caso houvesse açúcar demais ou de menos.
Talvez essa intensidade tenha deixado marcas demais e a gente tenha que aceitar que não vamos esquecer nada (eu não vou, você sempre esqueceu tudo o tempo inteiro, principalmente suas promessas de ano novo) e que sempre vai ter umas combinações calo-sapato que vão incomodar e fazer lembrar, mas o importante é inventar novos jogos que se não fazem parar de doer pelo menos me deixam mais distraído do peso. Pode funcionar por um dia, uma semana, um mês, mas é tudo que tenho. Você diz que eu não mudo mas a única pessoa que nunca mudou, desde o primeiro e-mail, desde a primeira despedida foi você.
Talvez se a gente tivesse sido mais burro e mais doce a alguns anos atrás tudo teria tido um fim diferente e eu seria só mais um na sua lista e a gente tomaria um café e riria disso tudo. Mas aqui estou eu escrevendo pela milésima vez as mesmas coisas que eu escrevia em 2004 e nada mudou. Continuamos longe demais pra colidir e perto demais para nossas gravidades não causarem efeito algum. E você vem dizer que eu não tenho motivos para a desesperança? Você me reinventou muito mal, já fomos melhores nisso.